O Plano Real, que recentemente comemorou 30 anos como o processo de estabilização econômica mais eficiente na história moderna do pais, representou o fim da inflação galopante que tomava conta do Brasil. Cinco anos antes, porém, o maringaense Paulo Rodrigues Vieira havia antecipado a estrutura do plano, como registram reportagens publicadas em 1988 e 1989. Originalmente, as recomendações que culminaram no plano que estabilizou a economia nacional foram entregues ao ministro-chefe da Casa Militar do governo Sarney.
Em 8 de janeiro de 1989, o jornalista Luiz Carlos Rizzo, da sucursal maringaense do extinto jornal O Estado do Paraná, produziu extensa matéria detalhando o “Brasil Real”, nome do conjunto de recomendações elaborado por Paulo Rodrigues Vieira. Ele estampou a capa do suplemento regional e sua entrevista tomou uma página inteira. Paulo já vivia havia 2 anos em Paris, para onde foi após se formar em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1986).
O presidente da República era José Sarney (1985-1990) e o Plano Real foi implementado efetivamente no governo Itamar Franco (1992-1995), que tinha Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda. O professor maringaense, que também atuou na Faculdade de Direito da Universidade de Hokkaido, no Japão, entregou o “Brasil Real” em mãos do general Rubens Bayma Denys, chefe da Casa Militar do governo Sarney. O documento continha basicamente as diretrizes adotadas anos depois.
Tendo alcançado ideias que faziam sentido (tendo inclusive criado uma nova teoria econômica desenvolvida especialmente para o caso brasileiro, a qual denominou “Teoria do Desenvolvimento Equilibrado” – o que irá justificar o nome escolhido por ele para o plano), o professor, em meados de 1988, mandou uma carta para o então presidente José Sarney. Meses depois, Paulo recebeu uma chamada do coronel Mazzi, então adido militar da embaixada brasileira em Paris. Disse o adido militar, gaúcho, que tinha recebido um telex do ministro-chefe da Casa Militar, general Rubem Bayma Denys, para que ele o ouvisse (bolsista do CNPq) e soubesse de suas ideias e sugestões tinham interesse para o Brasil. Reportando o conteúdo das conversas, o general entendeu que seria importante vir ao Brasil apresentar diretamente ao governo. O general tinha sido incumbido pelo presidente Sarney para prospectar um projeto de reforma administrativa. Percebeu que o plano do maringaense era bem mais que um simples plano de ajustes administrativos.
Reportagem publicada em O Diário cita o encontro de Paulo com Bayma Denys, informando que o maringaense havia passado o ano de 1988 refletindo e discutindo os problemas brasileiros, o que resultou no projeto entregue ao governo. À época, estava em discussão a reforma administrativa do governo Sarney, entregue à área militar. Entre as medidas propostas estavam a redução das despesas públicas, com o corte de ministérios e uma série de órgãos.
Na entrevista a Rizzo, Paulo Rodrigues Vieira, que desenvolvia tese de doutorado na Universidade de Paris, disse que estava convicto de que sua proposta estava embasado “na coerência, bom senso e realismo” e entre os aspectos positivos previa a redução dos tributos e aumento do poder aquisitivo, o que provocariam otimismo e confiança, essenciais para fazer a economia voltar a crescer.
“A prioridade, em sua visão, seria para o setor habitacional. Por seu intermédio, o governo transfere benefícios diretamente à população que deixa de pagar aluguel, ao mesmo tempo em que grande parte da economia seria mantida aquecida diante do envolvimento de vários setores na construção civil. “Construir casas é mais fácil, mais barato e útil do que implantar estradas, portos ou usinas nucleares”, diz trecho da entrevista, onde o enxugamento da máquina administrativa também é abordado como fundamental. “Todos os ministérios, sem exceção, passariam por processo de reorganização e reestruturação. No caso das Forças Armadas, há possibilidade de transformá-los num só: Ministerio da Defesa”, afirmou, em janeiro de 1989. O Ministério da Defesa veio a ser criado em 10 de junho de 1999.
Embora não reconhecida oficialmente, a contribuição do maringaense para o êxito do plano – responsável pela eleição do presidente FHC – está registrada pela imprensa maringaense e paranaense, o que o torna um dos merecedores de homenagem na comemoração no trigésimo aniversário do Plano Real. (inf Angelo Rigon)