Morte de professora em escola pública acende alerta sobre crise na educação do Paraná
Depressão, esgotamento e cobranças abusivas foram relatados por deputados da Oposição nesta segunda-feira, na Assembleia Legislativa

A morte de uma professora em pleno expediente escolar levou deputados estaduais a alertarem, nesta segunda-feira (2), para um cenário de colapso na educação pública do Paraná. Na sessão na Assembleia Legislativa (Alep), parlamentares da Bancada de Oposição descreveram um ambiente marcado por sobrecarga, cobranças abusivas e adoecimento mental de profissionais da rede estadual.
A educadora, que lecionava no Colégio Estadual Cívico-Militar Jayme Canet, em Curitiba, faleceu na última sexta-feira (30) após passar mal durante uma reunião com representantes do Núcleo Regional de Educação. De acordo com relatos, ela foi retirada da sala de aula para participar do encontro, no qual eram exigidas metas e resultados. Militares tentaram reanimá-la e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) demorou cerca de 40 minutos para chegar. A professora não resistiu. O caso gerou comoção entre os colegas da escola, que relataram crises de ansiedade e revolta com a pressão imposta, inclusive pelo programa Agrinho – concurso de redação promovido pelo governo nas escolas.
Casos se acumulam e retratam sistema sob pressão
Além da tragédia em Curitiba, os deputados citaram outros episódios graves. Na quinta-feira (29), um professor do Colégio Estadual Vital Brasil, em Maringá, foi agredido por um aluno e teve crise nervosa. Em Cornélio Procópio, um diretor de escola tirou a própria vida há menos de um mês. E, ainda em maio, um professor do Colégio Estadual Princesa Isabel, em Serra Azul, foi fotografado realizando um curso de progressão funcional em uma cama de hospital, com receio de perder o direito à promoção na carreira.
Para o deputado Arilson Chiorato (PT), Líder da Bancada de Oposição, a política educacional do Governo Ratinho Jr. impõe uma lógica de metas inalcançáveis e plataformas digitais desconectadas da realidade escolar.
“Há um assédio institucional e hierárquico que parte da Secretaria da Educação, desce pelos núcleos e atinge pedagogos, professores e até alunos. A cobrança é desumana e está adoecendo a rede”, afirmou o deputado Arilson.
O deputado Goura (PDT) também relacionou a morte da professora a um cenário de adoecimento generalizado entre os profissionais da educação e defendeu a necessidade urgente de mudanças.
“Estamos diante de uma epidemia de exaustão. A morte da professora deve nos alertar para o que está acontecendo nas escolas. Precisamos de uma educação humanizada e emancipadora, não de um modelo que impõe metas inalcançáveis de cima para baixo”, afirmou. Goura lembrou que, na próxima segunda-feira (9), será realizada audiência pública “Adoecimento de servidores e educadores da Rede Pública do Paraná”no Auditório da Alep, às 9h – sala onde ocorrem as reuniões da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Exaustão e adoecimento na rede estadual
A deputada Ana Júlia Ribeiro (PT) destacou que, conforme dados da Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (Seap), 8,8 mil professores foram afastados em 2024 por questões de sofrimento mental. Ela também citou o caso do professor hospitalizado: “No dia 22 de maio, solicitamos por ofício uma mudança na diretriz de faltas da Seed [Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná]. Até hoje, não houve resposta. O que vemos é uma política de assédio moral institucionalizada, que nega até mesmo o direito à saúde dos profissionais.”
Já o deputado Professor Lemos (PT), vice-líder da Oposição, apontou que o excesso de plataformas digitais e metas rígidas não resulta em aprendizado real.
“Elevar o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] não pode ser sinônimo de adoecimento. Estamos empurrando os profissionais ao limite, e a aprendizagem, de fato, está sendo prejudicada.”
A deputada Luciana Rafagnin (PT) reforçou que a pressão por metas tem causado danos à saúde mental dos educadores. “O Paraná lidera os índices de analfabetismo adulto na região Sul, mesmo que o governo celebre bons resultados no Ideb. Não basta ter boas notas, é preciso garantir o direito de aprender e ensinar com dignidade.”
Políticas equivocadas e cobrança de respostas
O deputado Renato Freitas (PT) também se manifestou. Ele afirmou que a precarização da educação começou com o projeto “Ponte para o Futuro”, do Governo Michel Temer, e se agravou com políticas da extrema-direita.
“A professora que morreu é vítima de um modelo que transforma a educação em mercadoria e o professor em inimigo. Esse sistema adoece e mata.”
Os parlamentares cobraram a presença do secretário estadual da Educação na Alep para debater o modelo de gestão adotado no Paraná. Eles pedem a revisão das metas, a contratação de psicólogos e assistentes sociais para as escolas, além de medidas urgentes de valorização da categoria.
Além disso, o deputado Arilson ingressou com um pedido de informações junto à Seed para apurar as circunstâncias da morte da professora e cobrar providências.