De Cleide Carvalho, na Época:
Dono de três empresas abertas no Guarujá, Bruno Lamego Alves, de 32 anos, morava num apartamento de alto padrão em Santos e circulava com desenvoltura em baladas no litoral paulista, a bordo de um Land Rover.
Nas redes sociais, costumava postar fotos e vídeos onde aparecia sorridente ao lado de figuras famosas, como o jogador Neymar Jr., e políticos da nova safra, como o tenente Coimbra, deputado estadual pelo PSL paulista.
Desde o dia 28 de maio passado, porém, Lamego Alves está preso. Após ter aprofundado a investigação, a Polícia Federal acredita que ele teria usado seus conhecimentos e suas empresas de comércio exterior para viabilizar a logística do envio de drogas para Europa por meio de exportações falsas. Ele também é suspeito de ter participado de outras operações além da que resultou em sua prisão.
As investigações da Polícia Federal começaram em 2017, quando a Receita Federal descobriu em dois contêineres, em meio a sacos de 50 quilos de fubá de milho extrafino, 760 quilos de cocaína acondicionados em mala de viagem. A carga, avaliada em quase R$ 5 milhões, estava prestes a ser embarcada no navio Cap San Males, com destino ao porto de Antuérpia, na Bélgica, de onde provavelmente seguiria para outros países do mercado europeu.
Misturar drogas a cargas com destino à Europa não é novidade no Porto de Santos, o maior da América Latina. Já foi achada cocaína até em carne congelada. No último sábado (dia 1), quase meia tonelada de cocaína acompanhavam uma carga de batata doce num contêiner que seguia para o Porto de Roterdã, na Holanda. Dois dias depois, na segunda-feira, tabletes com 94 quilos de cocaína, escondidos em três bolsas pretas, foram achados em nichos de um trator que estava sendo embarcado para a Bélgica.
Em geral, a carga é interceptada dentro ou fora do Porto de Santos e a droga é adicionada, com a ajuda de profissionais que atuam no processo, seja no transporte, nos armazéns ou até no próprio porto.
O problema de Lamego é que a história do fubá se mostrou diferente. Segundo a delegada Fabiana Lopes, as investigações ganharam corpo quando a importadora holandesa informou não ter comprado qualquer fubá no Brasil. A fabricante do fubá, com sede em Maringá, no Paraná, colaborou com as investigações e informou que a operação havia de fato fugido à regra: a encomenda, num total de R$ 88 mil, havia sido paga por meio de nove depósitos em caixas eletrônicos, sem qualquer contrato de câmbio.