Cotidiano
Thomas Cook: falência de operadora de turismo causa maior operação de resgate de britânicos desde a 2ª Guerra
Espera-se que cerca de 150 mil viajantes sejam trazidos de volta ao Reino Unido nos próximos dias com a interrupção súbita das operações da companhia, que tinha 178 anos de história. Guichês de check-in da empresa em diversos aeroportos no Reino Unido foram fechados com o cancelamento de dezenas de voos
PA/BBC
A interrupção súbita das operações da empresa de turismo britânica Thomas Cook, que decretou falência após 178 anos no mercado, provocou a maior operação de repatriação em massa de britânicos desde a 2ª Guerra Mundial.
Espera-se que cerca de 150 mil viajantes sejam trazidos de volta ao país nos próximos dias como reflexo do fim das atividades da operadora.
Segundo o repórter de transportes da BBC Tom Burridge, 16 mil tinham retorno marcado para esta segunda-feira (23). Desse total, 14 mil devem ser deslocados em voos fretados, de acordo com as autoridades britânicas.
Falência de Thomas Cook prejudica casamento de outro Thomas Cook
Batizada de Operação Matterhorn, a força-tarefa conta até o momento com 45 aeronaves que farão 64 rotas nesta segunda — uma escala que corresponderia à quinta maior companhia aérea do país.
Companhias aéreas como EasyJet e Virgin cederam parte dos aviões, alguns dos quais vindos de áreas distantes como a Malásia.
A Thomas Cook foi fundada em 1841 em Leicestershire pelo empresário que deu nome à companhia. Era a mais antiga operadora de turismo em operação do mundo.
Seu atual diretor-executivo, Peter Fankhauser, declarou “profundo pesar” e pediu desculpas aos “milhões de clientes e milhares de funcionários” afetados pelo episódio.
A falência coloca 22 mil empregos em risco, sendo 9 mil deles no Reino Unido.
O que aconteceu?
Após uma sequência de resultados ruins, a empresa havia negociado em agosto um pacote de resgate de 900 milhões de libras com seu principal acionista, a chinesa Fosun — mas a posterior exigência por parte dos credores de um fundo de contingência de 200 milhões de libras para aprovar o plano de reestruturação colocou o negócio em xeque.
Até este domingo (22), a empresa ainda tentou negociar com credores o financiamento adicional, sem sucesso.
Seus diretores culpam uma série de fatores para os problemas financeiros, desde a turbulência política na Turquia, um destino de férias importante dos clientes da Thomas Cook, à prolongada onda de calor no verão de 2018 e à postergação por parte dos britânicos de viagens por conta do Brexit.
O especialista em mercado de tursimo Simon Calder disse à BBC que a Thomas Cook “não estava preparada para o século 21”.
“Hoje todo mundo pode ser seu próprio agente de viagem. Todo mundo consegue comprar uma passagem, fazer reserva de hotel ou alugar um carro em qualquer lugar do mundo sem muita dificuldade.”
A empresa vinha fechando algumas lojas na tentativa de cortar custos — foram 21 apenas em março —, mas ainda estava presente em mais de 500 pontos, um custo fixo elevado, especialmente se comparado à estrutura enxuta das agências de viagem online.
Pedido de resgate
O ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, afirmou que os gestores da operadora de viagens chegaram a sondar o governo sobre a possibilidade de um resgate da ordem de 250 milhões de libras, o que foi negado.
“Temo que (um resgate) manteria a empresa em funcionamento por um curto período de tempo, após o qual voltaríamos à situação em que estamos agora, precisando repatriar as pessoas a toque de caixa”, disse no programa Today da BBC.
O nível de endividamento elevado e o modelo de negócio muito baseado no varejo offline, com lojas de rua (“High Street-focused”, na expressão britânica), fazia da empresa uma fraca candidata à sobrevivência, acrescentou.
O parlamentar John McDonnell, por outro lado, disse à BBC que o governo deveria ter tentado salvar a empresa “pelo menos para estabilizar a situação enquanto um plano concreto para o futuro da companhia seria elaborado”.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se comprometeu a auxiliar os viajantes afetados, mas questionou se os diretores da empresa estavam imbuídos da motivação necessária para “resolver esse tipo de problema”.
Operações internacionais também em xeque
Por ora, as subsidiárias da empresa na Índia, na China, na Alemanha e nos países nórdicos seguirão normalmente com as operações.
Isso porque, do ponto de vista jurídico, elas são empresas dissociadas da matriz no Reino Unido e não estão sob jurisdição da agência do governo que trata de casos de insolvência.
Elas compartilham, no entanto, uma série de recursos com a “companhia-mãe”, como aeronaves e serviços de tecnologia da informação, e precisarão negociar pacotes de resgate nas próximas semanas para continuarem com as operações.
Caso interrompam o serviço, entre 350 mil e 450 mil pessoas seriam afetadas.
Casamento adiado
Ruth Morse, natural da cidade de Halesowen, no condado de West Midlands, estava com o casamento marcado para o próximo dia 8 de outubro – mas agora não sabe se a cerimônia no Chipre vai de fato ser realizada.
Ela fez não apenas as reservas de passagens e acomodação por meio da Thomas Cook, mas também fechou a decoração, o bolo, o local da cerimônia e o serviço de bar com a operadora.
Dos 44 convidados, 25 haviam feito as reservas por meio da empresa.
“Estamos no escuro até o momento, eles ainda não entraram em contato conosco”, afirma Ruth.
“Sei que estamos protegidos pelo Atol (“Air Travel Organisers’ Licence”, uma espécie de seguro), mas não tenho tanta certeza em relação ao que compramos de terceiros por meio da operadora, como decoração. É um custo de 4 mil libras.”
Há dois anos ela planeja o “casamento dos sonhos”. Parte do dinheiro para a cerimônia veio de familiares — incluindo a mãe e o irmão mais velho, Ben, assassinado em 2017.
“A partir do luto nós tiramos forças para realizar um sonho”, diz a jovem.
“Vou remarcar tudo, mas não vou mais fazer no exterior porque perdi a confiança. Estou arrasada com tudo isso.”
Como será o retorno dos que estão no exterior?
De acordo com o Departamento de Transportes (DfT) britânico, os viajantes afetados serão trazidos de volta “o mais próximo possível” da data de retorno prevista originalmente nos pacotes.
Os clientes serão acomodados em voos fretados gratuitos ou nos de outras companhias aéreas, sem custo adicional.
O DfT declarou ainda que um “pequeno número” de passageiros terá de fazer esse procedimento por conta própria e pedir posteriormente reembolso.
Os viajantes foram aconselhados a não encurtar suas viagens e correrem para o aeroporto sem antes checar as últimas informações no site da empresa sobre seu retorno.
A Agência de Aviação Civil do Reino Unido (CAA, na sigla em inglês) está em contato com clientes que também tinham reservas de hotel feitas com a companhia para avisar que esses custos serão cobertos pelo governo por meio do Atol.
Tim Johnson, um dos diretores da CAA, afirmou à BBC que aqueles com reservas futuras também devem se informar no site da empresa sobre as restituições.
PA/BBC
A interrupção súbita das operações da empresa de turismo britânica Thomas Cook, que decretou falência após 178 anos no mercado, provocou a maior operação de repatriação em massa de britânicos desde a 2ª Guerra Mundial.
Espera-se que cerca de 150 mil viajantes sejam trazidos de volta ao país nos próximos dias como reflexo do fim das atividades da operadora.
Segundo o repórter de transportes da BBC Tom Burridge, 16 mil tinham retorno marcado para esta segunda-feira (23). Desse total, 14 mil devem ser deslocados em voos fretados, de acordo com as autoridades britânicas.
Falência de Thomas Cook prejudica casamento de outro Thomas Cook
Batizada de Operação Matterhorn, a força-tarefa conta até o momento com 45 aeronaves que farão 64 rotas nesta segunda — uma escala que corresponderia à quinta maior companhia aérea do país.
Companhias aéreas como EasyJet e Virgin cederam parte dos aviões, alguns dos quais vindos de áreas distantes como a Malásia.
A Thomas Cook foi fundada em 1841 em Leicestershire pelo empresário que deu nome à companhia. Era a mais antiga operadora de turismo em operação do mundo.
Seu atual diretor-executivo, Peter Fankhauser, declarou “profundo pesar” e pediu desculpas aos “milhões de clientes e milhares de funcionários” afetados pelo episódio.
A falência coloca 22 mil empregos em risco, sendo 9 mil deles no Reino Unido.
O que aconteceu?
Após uma sequência de resultados ruins, a empresa havia negociado em agosto um pacote de resgate de 900 milhões de libras com seu principal acionista, a chinesa Fosun — mas a posterior exigência por parte dos credores de um fundo de contingência de 200 milhões de libras para aprovar o plano de reestruturação colocou o negócio em xeque.
Até este domingo (22), a empresa ainda tentou negociar com credores o financiamento adicional, sem sucesso.
Seus diretores culpam uma série de fatores para os problemas financeiros, desde a turbulência política na Turquia, um destino de férias importante dos clientes da Thomas Cook, à prolongada onda de calor no verão de 2018 e à postergação por parte dos britânicos de viagens por conta do Brexit.
O especialista em mercado de tursimo Simon Calder disse à BBC que a Thomas Cook “não estava preparada para o século 21”.
“Hoje todo mundo pode ser seu próprio agente de viagem. Todo mundo consegue comprar uma passagem, fazer reserva de hotel ou alugar um carro em qualquer lugar do mundo sem muita dificuldade.”
A empresa vinha fechando algumas lojas na tentativa de cortar custos — foram 21 apenas em março —, mas ainda estava presente em mais de 500 pontos, um custo fixo elevado, especialmente se comparado à estrutura enxuta das agências de viagem online.
Pedido de resgate
O ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, afirmou que os gestores da operadora de viagens chegaram a sondar o governo sobre a possibilidade de um resgate da ordem de 250 milhões de libras, o que foi negado.
“Temo que (um resgate) manteria a empresa em funcionamento por um curto período de tempo, após o qual voltaríamos à situação em que estamos agora, precisando repatriar as pessoas a toque de caixa”, disse no programa Today da BBC.
O nível de endividamento elevado e o modelo de negócio muito baseado no varejo offline, com lojas de rua (“High Street-focused”, na expressão britânica), fazia da empresa uma fraca candidata à sobrevivência, acrescentou.
O parlamentar John McDonnell, por outro lado, disse à BBC que o governo deveria ter tentado salvar a empresa “pelo menos para estabilizar a situação enquanto um plano concreto para o futuro da companhia seria elaborado”.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se comprometeu a auxiliar os viajantes afetados, mas questionou se os diretores da empresa estavam imbuídos da motivação necessária para “resolver esse tipo de problema”.
Operações internacionais também em xeque
Por ora, as subsidiárias da empresa na Índia, na China, na Alemanha e nos países nórdicos seguirão normalmente com as operações.
Isso porque, do ponto de vista jurídico, elas são empresas dissociadas da matriz no Reino Unido e não estão sob jurisdição da agência do governo que trata de casos de insolvência.
Elas compartilham, no entanto, uma série de recursos com a “companhia-mãe”, como aeronaves e serviços de tecnologia da informação, e precisarão negociar pacotes de resgate nas próximas semanas para continuarem com as operações.
Caso interrompam o serviço, entre 350 mil e 450 mil pessoas seriam afetadas.
Casamento adiado
Ruth Morse, natural da cidade de Halesowen, no condado de West Midlands, estava com o casamento marcado para o próximo dia 8 de outubro – mas agora não sabe se a cerimônia no Chipre vai de fato ser realizada.
Ela fez não apenas as reservas de passagens e acomodação por meio da Thomas Cook, mas também fechou a decoração, o bolo, o local da cerimônia e o serviço de bar com a operadora.
Dos 44 convidados, 25 haviam feito as reservas por meio da empresa.
“Estamos no escuro até o momento, eles ainda não entraram em contato conosco”, afirma Ruth.
“Sei que estamos protegidos pelo Atol (“Air Travel Organisers’ Licence”, uma espécie de seguro), mas não tenho tanta certeza em relação ao que compramos de terceiros por meio da operadora, como decoração. É um custo de 4 mil libras.”
Há dois anos ela planeja o “casamento dos sonhos”. Parte do dinheiro para a cerimônia veio de familiares — incluindo a mãe e o irmão mais velho, Ben, assassinado em 2017.
“A partir do luto nós tiramos forças para realizar um sonho”, diz a jovem.
“Vou remarcar tudo, mas não vou mais fazer no exterior porque perdi a confiança. Estou arrasada com tudo isso.”
Como será o retorno dos que estão no exterior?
De acordo com o Departamento de Transportes (DfT) britânico, os viajantes afetados serão trazidos de volta “o mais próximo possível” da data de retorno prevista originalmente nos pacotes.
Os clientes serão acomodados em voos fretados gratuitos ou nos de outras companhias aéreas, sem custo adicional.
O DfT declarou ainda que um “pequeno número” de passageiros terá de fazer esse procedimento por conta própria e pedir posteriormente reembolso.
Os viajantes foram aconselhados a não encurtar suas viagens e correrem para o aeroporto sem antes checar as últimas informações no site da empresa sobre seu retorno.
A Agência de Aviação Civil do Reino Unido (CAA, na sigla em inglês) está em contato com clientes que também tinham reservas de hotel feitas com a companhia para avisar que esses custos serão cobertos pelo governo por meio do Atol.
Tim Johnson, um dos diretores da CAA, afirmou à BBC que aqueles com reservas futuras também devem se informar no site da empresa sobre as restituições.