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Lula demite ministra Nísia Trindade, confirma Padilha na Saúde e dá início a reforma ministerial

Ministra é a 4ª mulher demitida por Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, após demonstrar insatisfação com a falta de resultados da gestão na área. O lugar será ocupado por Alexandre Padilha, titular das Relações Institucionais e chefe da pasta durante o governo de Dilma Rousseff.

A decisão ocorreu após duas reuniões. À tarde, Lula recebeu Nísia para uma conversa a sós. Depois, foi a vez de Padilha.
Após a reunião com Lula, a ministra foi para o Ministério da Saúde e chamou o secretário-executivo, Swedenberger Barbosa, para seu gabinete, para dar a notícia.

Trindade ainda não informou sobre a demissão para demais secretários e funcionários, e marcou uma reunião com seu time principal para esta quarta-feira. A indefinição dos últimos dias levou equipes de diferentes setores da pasta a desmarcarem agendas já fechadas para as próximas semanas e meses.

Mais cedo, Lula participou de evento ao lado de Nísia para celebrar uma pactuação de vacinas e anunciou a inclusão do imunizante da dengue do Instituto Butantan no SUS.

A cerimônia aconteceu no Planalto e foi marcada pelo silêncio do presidente e uma ministra ovacionada pelo público.

A cúpula da Saúde não esconde a frustração sobre a falta de informações do Planalto, em crise que se arrastou por dias, e a incerteza sobre a continuidade no ministério. O time de Nísia descobriu sobre a decisão de Lula pela imprensa.

A tendência é que Padilha mantenha parte da equipe de Nísia, como Estela Haddad (Saúde Digital), Felipe Proenço (Atenção Primária) e Adriano Massuda (Atenção Especializada).

Nísia foi a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde e presidiu a Fiocruz durante a pandemia de Covid-19. O perfil técnico foi visto como um ativo pelo governo no início do mandato de Lula, após a série de críticas à pasta na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas a demora nas entregas e a dificuldade na articulação política desgastaram Nísia e, na visão do Planalto, inviabilizaram a permanência.

Lula vinha reclamando com aliados da demora da pasta em gerar ações que pudessem ser usadas pelo governo como exemplos de impacto positivo na população — o presidente chegou ao seu índice mais baixo de popularidade nos três mandatos, como mostrou o Datafolha.

A principal queixa era direcionada ao programa Mais Acesso a Especialistas, que tem como meta ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública. Nísia foi cobrada por Lula em mais de uma ocasião diante do avanço a passos lentos da iniciativa. O programa alcançou 99% dos municípios do país atendidos só em fevereiro, dez meses após ter sido lançado.

Além disso, o Palácio do Planalto avalia que os benefícios da ação não foram transmitidos corretamente para a população. Até o momento, o ministério investiu R$ 2,4 bilhões, além de R$ 1,2 bilhão para as cirurgias eletivas.

A passagem de Nísia foi marcada ainda por outras crises, como a explosão de casos de dengue, falhas na estratégia de vacinação e falta de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), como insulina.

Em meio à escalada dos casos de dengue em 2024, Lula reclamou com auxiliares que a Saúde errou ao gerar expectativa na população de que o governo teria vacina contra a doença, sendo que não havia doses disponíveis no mercado à época. No ano passado, Nísia chegou a passar por um treinamento com o marqueteiro Sidônio Palmeira, hoje ministro da Comunicação Social.

Uma reportagem do GLOBO também mostrou, em novembro do ano passado, que o governo havia deixado vencer 58,7 milhões de imunizantes desde 2023. O número supera em 22% a quantidade desperdiçada nos quatro anos em que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve no poder, quando 48,2 milhões de imunizantes foram descartados por não serem usados no prazo de validade

A agora ex-ministra da Saúde também viu respingar na gestão a crise com a administração dos hospitais federais do Rio e o escândalo da contaminação de HIV por transplante na rede estadual do Rio de Janeiro.

Lula chegou a falar publicamente, em dezembro do ano passado, que era preciso tratar com “respeito” os hospitais federais do Rio e que, se o governo federal não conseguisse cuidar, era preciso procurar um jeito melhor de administrá-los.

— Já que é para ter hospital, que ele seja um hospital de excelência e um motivo de orgulho para qualquer brasileiro. Não era possível a gente continuar vendo hospitais desfalcados de funcionários e de funcionamento de sala de cirurgia. Se o governo federal não tem condições, que a gente procure um jeito melhor de administrar.

Quatro unidades estão passando por mudanças no modelo de gestão: os hospitais federais de Bonsucesso, Andaraí, Cardoso Fontes e Servidores do Estado — Andaraí e Cardoso Fontes passaram a ser administrados pela Prefeitura do Rio. (inf O Globo/foto Cristiano Mariz)

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