Na semana passada, o jornalista Fábio Guillen registrou os impactos da seca nas proximidades da ilha existente no lago do Parque do Ingá. Maringá é uma das cidades que mais sofrem com a crise hídrica.
A reportagem alertou Marco Antonio Deprá, que sugeriu que talvez não seja somente a severa estiagem que tem provocado a redução drástica no volume de água do lago, que foi formado com o represamento do córrego Moscados no início da década de 1970, durante a gestão do então prefeito Adriano Valente.
O Parque do Ingá tem sido usado como atrativo para a venda de apartamentos como mostra o seguinte anúncio: “Todos os ambientes com vista panorâmica para o Parque do Ingá. Tenha o Parque do Ingá como seu novo vizinho”, diz a propaganda que vende apartamentos no edifício cujas árvores já foram cimentadas.
Não podemos deixar de constatar que nos últimos anos a legislação municipal foi se afrouxando para permitir altos prédios no entorno do Parque do Ingá. Culpa do Executivo e do Legislativo, que produziram leis específicas, para beneficiar eternos “empreendedores” que só veem cifrões pela frente.
Na rua Néo Alves Martins, por exemplo, só se permitiam construções de até quatro andares; durante uma das gestões do PP autorizou-se a construção de um prédio de cerca de 20 andares. A partir dali, começaram a surgir edifícios no entorno de todo o parque, da avenida JK à avenida Laguna.
A abertura de poços artesianos também deve ter colaborado para a atual situação, uma vez que pode ter provocado o rebaixamento do lençol freático e a consequente extinção de muitas minas de água que afloravam dentro do Parque.
O processo de rebaixamento do nível de água do lago não é de agora. Há 16 anos, um relatório técnico emitido por empresa contratada pela Prefeitura já apontava algumas causas: aumento da impermeabilização do solo no entorno do Parque; longos períodos de baixa pluviosidade; ausência de normas de controle de entrada e saída de água do lago; erosão do solo que pode ter provocado alterações no lençol freático; e implantação de galerias que desviam as águas da chuva para o córrego Moscados à jusante da barragem impedindo que o lago seja abastecido.
O relatório também concluiu que o espelho de água do lago e seu abastecimento foram tratados até aquele momento de forma empírica. Por esta razão, dentre outras medidas, o estudo propunha:
a) a instalação de estrutura para monitoramento e controle do nível do lençol freático;
b) instalação de uma estação pluviométrica para controle do volume de chuva e do seu impacto no nível de água do lago;
c) melhoria na capacidade de infiltração das calçadas ecológicas construídas nas regiões do entorno do Parque;
d) adequação dos sistemas de captação e condução de águas pluviais na bacia de contribuição através de caixas de infiltração;
e) controle e fiscalização das taxas de permeabilidade nas construções existentes; e
f) aproveitamento das águas das galerias pluviais a fim de manter o nível estável de água do lago.
Pelo que se tem notícia, poucas destas orientações e ações foram implementadas. Mas se as autoridades ambientais não se preocuparem, o problema não será revertido – e a tendência é o parque ficar privado do lago.
O prefeito Ulisses Maia, que encontrou a legislação do jeito que está, pretende tratar do assunto ouvindo a equipe do Nupelia, Núcleo de Pesquisas da UEM, contratado para elaborar o novo Plano de Manejo do Parque do Ingá.(inf Maringá News/imagens: Fabio Guillen/Google Maps)