Revitalização do Parque do Ingá desafia harmonia entre lazer e preservação

A intenção de Silvio Barros de conceder a gestão do Parque do Ingá à iniciativa privada, num processo ainda não devidamente explicado, deve esbarrar em obstáculos legais e não avançar na velocidade pretendida pelo prefeito.
A terceirização talvez seja o recurso mais adequado para resgatar o vigor de outrora, quando a área era bem cuidada e aproveitada como ponto de encontro e lazer. Nos últimos 8 anos, o parque perdeu essa virtude por descaso do gestor público e, como disse o prefeito, ‘dá vontade de chorar’ diante do abandono.

O Plano de Manejo do Parque do Ingá, um vistoso documento revisado em 2020 por robusta equipe multidisciplinar formada por especialistas de diversas áreas, sugere limites às intervenções, a começar pela restrição a poluição sonora e luminosa como recurso para evitar estresse em animais que compõem a fauna do local. O documento pede ainda a retirada das esculturas de animais em concreto do parque, implantadas por Silvio Barros em seu primeiro mandado, assim como as estruturas da tirolesa devem sumir da área.
Importante lembrar que na segunda gestão de Silvio Barros, o parque ficou fechado por mais de dois anos. Inicialmente, a interdição da área foi justificada pela presença de macacos no parque, animais vetores da febre amarela num momento de alerta para a doença. Descartado o risco, o local continuou fechado para obras de revitalização. O então secretário do Meio Ambiente, Diniz Afonso, justificava que, por conta da complexidade das obras, não era possível conciliar o trânsito de pessoas com as máquinas.
Lei municipal de 2016 posicionou o Parque do Ingá como Unidade de Conservação na Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) e sua preservação está disciplinada na Lei Federal nº 9.985, de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Na prática, essas áreas precisam equilibrar a presença humana com a preservação da fauna e da flora, a partir de critérios bastante rígido definidos exatamente no plano de manejo.
No entanto, o prefeito tem razão em criticar a falta de esforço de seguidas gestões, inclusive as suas duas primeiras, em não enfatizar a educação ambiental como instrumento de valorização das virtudes do parque. “A pessoa não pode sair do local do tamanho que entrou”, disse o prefeito na Câmara de Vereadores, onde participou do início do ano legislativo. Sugeriu que o visitante precisa sair mais esclarecido sobre a fauna e a flora do local.
No contexto da terceirização, com retomada das estruturas de lazer, como tirolesa, arvorismo e pista de carrinhos elétricos, resta o entendimento da legislação e seu alcance em proteger exatamente a reserva florestal e suas virtudes. Justo que o parque seja explorado para o lazer das pessoas, mas urgente também é preservar seus ativos ambientais, desafio que se impõe para o prefeito, que tem nos últimos anos adotou o tema da sustentabilidade. (inf Edivaldo Magro)